MONTEVIDÉU - A maior conquista da história do futebol uruguaio virou filme. O documentário “Maracanã” estreia nesta quarta-feira em uma grande produção. Dez mil pessoas são esperadas no estádio Centenário, em Montevidéu, para acompanharem a exibição do filme em um telão de 20 metros de largura e 11 de altura.
O documentário conta a histórica vitória da Celeste sobre o Brasil na decisão da Copa do Mundo de 1950. O filme chega às telas justamente a três meses de outro Mundial disputado em terras brasileiras.
Depois de divertir com uma bem-humorada campanha publicitária em que o “fantasma de 1950” invade o Rio de Janeiro, os uruguaios terão agora a oportunidade de reviver as glórias do passado como forma de aquecimento para a competição, na qual a seleção local integra o “grupo da morte”, junto com Inglaterra, Itália e Costa Rica.
- Maracanã é uma trama que tem uma leitura histórica, resultado de uma longa investigação. O mais incrível foi o a descoberta de uma época, de dois países, do ponto de vista humano - contou à AFP o diretor Andrés Varela, que dirigiu o longa com Sebastián Bednarik.
Baseado no livro "Maracanã, a história secreta", do autor uruguaio Atilio Garrido, mostra imagens de arquivo e relatos de protagonistas da partida, disputada em 16 de julho de 1950. Os diretores levaram três anos para juntar o material, com muitas imagens oriundas de coleções privadas e para fazer as entrevistas.
- Durante este período, tivemos a oportunidade de mergulhar na sociedade uruguaia e brasileira da época, com o Brasil em ano eleitoral e o desafio da construção do Maracanã, que é nada menos que um colosso que buscava mostrar a dimensão do país ao mundo - explicou Varela.
O documentário também mostra as diferenças de preparação entre as duas equipes e a fama de invencibilidade dos brasileiros, intensificada pela imprensa, os dirigentes e a torcida local. Medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris-1924 e de Amsterdã-1928 e primeira campeã mundial da história (em 1930), a seleção uruguaia não disputou as Copas de 1934 e 1938 por razões políticas.
- Determinação e superação - O filme exalta a "convicção, determinação desses homens, que transformaram tudo que aconteceu de ruim antes do Mundial (uma greve dos jogadores que paralisou o futebol uruguaio entre 1948 e 1949) em algo positivo, alcançando seu objetivo final de forma incrível - ressaltou Varela. - Não podemos nos esquecer que esses homens (os uruguaios) jogavam muita bola, e enfrentavam uma seleção (brasileira) com talento similar e uma ótima preparação - lembrou o diretor, chamando a Celeste da época de "seleção de operários".
A longa greve no futebol uruguaio levou alguns jogadores a trabalhar em outras áreas para se sustentar, inclusive a construção civil. Um dos atletas que precisou trabalhar como operário foi o capitão Obdulio Varela, que ganhou o apelido de “Negro jefe“ (Chefe negro). O filme relata o momento em que ele pegou a bola e começou a discutir com o árbitro para "esfriar a partida" depois da abertura do placar pelo brasileiro Friaça.
A Celeste conseguiu a virada histórica com gols marcados por Juan Alberto Schiaffino e Alcides Edgardo Ghiggia, nos 21 e 34 minutos do segundo tempo. O “carrasco” Ghiggia é justamente o último sobrevivente daquela geração e foi homenageado em novembro do ano passado no estádio Centenário, antes da partida de repescagem na qual os uruguaios garantiram sua vaga para a próxima Copa. O documentário vai além do relato esportivo, contando por exemplo com um depoimento da viúva de Julio Pérez, revelando que o ex-atacante, seu noivo na época, havia prometido casar com ela se conquistasse o título no Brasil.
- Ela escutou a final na rádio, fazendo crochê e rezando para que a equipe vencesse. Esta imagem reflete muito bem a época - aponta o diretor.
Com este filme, os uruguaios vão poder fazer uma viagem no tempo, revisitando um episódio que aconteceu há 64 anos, antes da seleção atual de Luís Suárez e Cavani estrear na Copa, no 14 de junho no Castelão, em Fortaleza, contra a Costa Rica, alimentando o sonho de mais um título em terras brasileiras. Enquanto a Celeste buscará o tri, a seleção brasileira, que superou o trauma do “Maracanazo“ ao se tornar o maior campeão mundial da história, tentará conquistar o hexa em casa.