RIO - Muitas vezes vista de passagem, a arte de rua, aquela feita em muros, viadutos, pontes, paredes, tapumes e qualquer outra “tela” improvisada em meio ao ritmo apressado das cidades, ganha um pausa para a reflexão na Caradura. Esse é o nome de guerra da Mostra Internacional de Filmes de Arte Urbana, que começa nesta terça na Caixa Cultural. Até o dia 4 de novembro, em sessões às 14h, 16h e 18h, vão ser exibidos curtas, médias e longas-metragens que abordam a interação, muitas vezes conflitante, entre alguns criadores e os espaços públicos. Ao final de cada semana, haverá também um debate entre cineastas, produtores e artistas, aberto ao público.
— Pensamos no nome Caradura porque a maior parte desses artistas faz o seu trabalho sem pedir permissão para ninguém — afirma Clarissa Guarilha, idealizadora e uma das produtoras da mostra. — Queremos dar um panorama da produção visual da arte urbana, que é bem documentada no exterior, mas ainda pouco registrada no Brasil, mesmo com o país tendo produzido nomes como osgemeos, cujo trabalho é reconhecido em todo o mundo.
Mesmo com um vazio notável na programação — “Exit through the gift shop”, documentário sobre Banksy, o mais famoso artista de rua do mundo, não está incluído na mostra —, o evento junta produções clássicas como “Wilde style” e “Style wars” (que mostram os primórdios do grafite em Nova York nos anos 1980) e outras mais recentes, como “Chile style”, de Pablo Aravena (curador da mostra) curta sobre o movimento nas ruas de Santiago.
— O filme do Banksy só não entrou na mostra por problemas de orçamento, mas há outros que mostram como esse tipo de trabalho se popularizou, chegando bem perto do mainstream, o que já gera outras discussões — afirma a produtora.
Das produções nacionais incluídas na mostra, só há dois longas, curiosamente sobre um mesmo (e polêmico) tema: a pichação, assunto de “Pixo”, de João Wainer e Roberto Oliveira (de 2009); e “Luz, câmera, pichação”, de Gustavo Coelho, Marcelo Guerra e Bruno Caetano, de 2011.
— Só reparamos isso quando fechamos a programação. Talvez isso possa ser atribuído à toda polêmica que cerca a pichação e gera muita curiosidade sobre ela — diz Clarissa. O restante da programação reúne filmes como “Largo do Machado”, sobre a passagem pelo Rio do francês Thomas Herriot (que faz desenhos nas calçadas com nanquim), e “Ossória”, sobre Alexandre Orion, artista paulistano que utiliza a fuligem da poluição dos túneis para compor sua arte.
— Encontro a motivação para trabalhar na rua quando acredito que a minha escolha individual se comunica com o coletivo — diz Orion. — Acho que foi o caso desse trabalho nos túneis de São Paulo, que o filme documenta. Afinal, a sujeira naquelas paredes reflete a péssima qualidade do ar que respiramos.
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